segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Estrada do Chícharo

Ao longo dos tempos foi perdendo muita da sua importância porque os senhores presidentes de câmara numa lógica eleitoralistas sempre se preocuparam com votos em vez do desenvolvimento e fortalecimento regional, a estrada do chícharo foi em tempos a espinha dorsal da Serra Negra aproximando as populações de Friões, Barracão, Mosteiró de Cima, S. Julião, Vila Nova de Monforte, Avelelas, Oucidres, Alvarelhos, Bobadela, Tronco etc…
Percurso de contrabandistas e de tantos que queriam fugir aos itinerários principais, a estrada da serra sempre foi uma alternativa, porque pouco movimentada e pouco fiscalizada.
A estrada do chícharo voltou novamente à baila com a notícia do futuro aeródromo intermunicipal a construir pelos municípios de Chaves e Valpaços na Serra Negra (Barracão). Desde que me conheço como gente já ouvi falar desta obra vezes a mais sem que nada, rigorosamente nada fosse feito. A afectação dos dinheiros públicos devem pautar-se por critérios que não vou enunciar, mas também transmite a visão futurista ou conservadora ou a falta de visão que afecta muitos dos nossos políticos/governantes.
Num País que gastou grande parte dos fundos comunitários no reforço da rede rodoviária, parece-me cataratas aquilo de que sofrem alguns lideres regionais, que continuam a ver as suas terras completamente encravadas, afastadas dos grandes eixos rodoviários nacionais e internacionais, optando por gastar os dinheiros públicos na requalificação de curvas como as da EN 213, justificando a opção com a morte das aldeias que são servidas pela referida Estrada Nacional.
A estratégia ou a falta dela para um desenvolvimento harmonioso a nível regional ou municipal, mais uma vez fica clara, hoje ouvimos os autarcas a defender esta localização e este investimento público, no futuro uma parceria mais alargada leva este projecto para a Serra da Padrela, isto se não surgir ninguém a defender a sua localização na Serra do Perdigão ou em outro sítio deste fim de mundo. Por fim vamos ter a tal obra financiada por fundos comunitários lá para os lados de Verin em terras de nuestros hermanos, porque nós Tugas somos incapazes de programar e defender o mesmo projecto por mais de quatro anos, assim como definir uma estratégia que tenha um horizonte temporal superior a um ano.
A nossa tendência egocêntrica de copiar e desejar tudo o que o vizinho tem, traduz-se numa falência completa a nível regional, pois tudo o que seja inovação e até possa fazer algum sentido num município nosso vizinho torna-se fastidioso e perde dimensão quando replicado vezes sem conta por toda a região.
As associações de municípios têm servido para muito pouco, (tachos), traduzem-se em mais um esfrangalhar administrativo sem resultados, sem objectivos e mais grave sem recursos e sem força politica para impor decisões ou projectos que são vitais para a região, mas porque não estão localizados nas vilas e cidades transmontanas, não avançam penalizando duplamente as freguesias mais pequenas e mais afastadas das sedes de município num território já de si fragilizado.
Os acessos ao tal aeródromo já poderiam e deveriam estar executados mas não estava previsto nenhum aeródromo, como tal gastou-se os recursos públicos na requalificação da EN. A ligação ao nó de Feces e consequentemente à Europa ligando a A7 à A4, passando pela Cidade de Valpaços fica para a depois do aeródromo. Sim porque este só faz sentido se tiver acessos facilitados e um tecido empresarial que justifique a sua existência caso contrario é mais um elefante branco que alguém tem que sustentar …
Não é novidade para ninguém a crise financeira que o País atravessa, que com toda a certeza servirá de justificação para que esta obra não passe de blá, blá blá e conversa fiada, mas demonstra a falta de estratégia regional e municipal.
Continuámos muito preocupados com o túnel do Marão, contribuímos directamente para a sua construção quando aqui ao lado atravessando a Ribeira de Feces temos Cidades e Vilas que nos dariam muito mais, que aquilo que vamos trazer ou levar para lá do Marão…
Quanto se gastou de fundos comunitários no reforço da coesão regional Norte/Galicia? Só Chaves é que tem a ganhar com a Euro-Cidade? O Eixo Atlântico também chega a Valpaços e à restante Região? Estes senhores só fazem palestras e congressos ou os nossos políticos/governantes locais só saem quando vão de férias ou para os congressos do Partido?
Deixei de manifestar a minha opinião relativamente a muitos dos assuntos que vão agitando as hostes Valpacenses, mas como este assunto diz respeito aos fregueses da montanha resolvi tecer estes breves comentários, relembrando a velha estrada do chícharo porque vou continuar a ouvir falar do famigerado aeródromo que tarde ou nunca chegará …



Henrique Rodrigues