tag:blogger.com,1999:blog-32923185132846458322024-03-19T01:03:34.124-07:00Alvarelhos (Maravilhoso Reino)...UM ESPAÇO DE TRÁS-OS-MONTES, PARA TRANSMONTANOS...henrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.comBlogger14125tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-55419235643445027602011-07-21T02:18:00.000-07:002011-07-21T02:22:48.744-07:00Forno comunitário de AlvarelhosForno comunitário de Alvarelhos<br /><br />Num tempo em que se valoriza tanto a optimização de recursos, recuar uns tempos, analisar como a necessidade aguça o engenho, como o povo dá a volta ás crises e aos problemas que directamente os afectam poderá ser um exercício muito interessante. O espírito comunitário sempre foi um traço vincado que marcou e marca este povo Transmontano, não muito habituado a reclamar do Estado tudo e mais qualquer coisa...<br />O forno comunitário de Alvarelhos é um marco histórico cultural da freguesia não muito valorizado, mas pelo menos tem se aguentando á erosão dos tempos. Hoje a necessidade de recorrer ao forno comunitário é menor porque foram construídos fornos particulares, porque a oferta em termos alimentares é mais diversificada, porque a população diminuiu e por tantos outros motivos ...<br />Em alturas festivas, em especial na Páscoa o forno ganha algum do ritmo de outros tempos em que o forno era partilhado e os pães ou folares eram marcados ao entrar no forno para não haver enganos depois de cozidos. O folar tão característico das nossas gentes tem neste e em muitos outros fornos a lenha muito do seu segredo culinário, a cozedura tem muito que se lhe diga. Os saberes ancestrais de como aquecer o forno ou o tipo de lenha a usar o deixar descair o forno antes de enfornar são coisas que não estão escritas em manuais de instruções mas que o nosso povo faz com tal mestria que parece que todos os dias fazem este serviço.<br />A fornada de pão que enchia uma giga e depois o" tarandeira" onde ficava até ser consumida, sem que ficasse muito enxuto, apesar de ser consumida dias para não dizer semanas depois, coisa quase impossível nos nossos dias... <br />Curiosa era a prática corrente do torna pão que consistia em emprestar pão ao vizinho ou vizinha até que esta cozesse e tornasse aquilo que tinha pedido emprestado, ninguém regateava o tamanho ou o sabor do pão que tinha sido alvo de empréstimo, reforçando desta forma os laços de comunidade. <br />Outra lembrança que guardo é a de uma malga de barro maior que o vulgar que ficava depositada em casa da Sr. Maria do Carmo com um bocado de massa fermentada que depois era utilizar como levedura na nova fornada. Esta levedura ia rodando pelos utilizadores do forno que tinham a obrigação de deixar a malga cheia para o próximo utilizador do forno.<br />O sentido comunitário das nossas gentes sempre foi muito apurado, não é por acaso que somos uma terra que tem baldios de utilização comum, regadio de utilização e limpeza comuns , existiu em tempos o Tronco que servia para ferrar, para olhar ou até para vacinar os animais mais ariscos também de uso comum, para lá de outros equipamentos que existem nesta e em muitas outras terras Transmontanas para os quais o Estado não contribuiu com como é o caso da casa paroquial que só foi possível pela força férrea do lider paroquial da altura o Rev.Padre Delmino, que muito ajudou esta freguesia com do seu esforço físico, intelectual e monetário.<br />A água do regadio " andar á roda" para de uma forma simples se tornar eficiente e ao mesmo tempo um bem disponível para todos. Ao domingo e quinta -feira é para o jericó das hortas da Água - levada o restantes dias a água rodava pelos campos onde chegava o rego. Hoje como diria o Sr. Brás " até se verte" porque há pouco para regar mas este equipamento ancestral registou talvez muitas das mais acesas quezílias entre vizinhos pois muitas das vezes era tornada por alguém mais desesperado que não queria ver passar sede ao seu "renovo" e infringia o que estava estabelecido, tempos houve em que se regava de noite e de dia com a ajuda de uns lampiões a petróleo para ver se a àgua chegava ao fim do rego.<br />A confecção do pão que é um dos alimentos base da alimentação das nossas gentes é uma tarefa muitas vezes partilhada e com um ritual cadenciado, quase sagrado onde a invocação a algo superior é inevitável pois um pequeno erro pode deitar por terra uma fornada de pão. Desde o aquecer do forno o amassar o pão , o deixar levedar, o rapar o forno, o deixar descair o forno, o enformar do pão, a oração após a entrada do pão no forno , o cozer do pão o retirar do pão do forno e dar-lhe a palmadinha para ver se já está cozido são tudo pequenos pormenores que fazem a diferença.<br />Somos um povo crente e temente a Deus e em grande parte das nossas actividades sejam elas laborais ou lúdicas a invocação a algo superior acontece e o fabrico do Pão não é excepção, daí a oração que diz o nosso povo após a entrada do Pão no forno seguida do sinal da cruz com a pá que enfornou o pão " Cresça o Pão no forno o bem por o mundo todo e a paz em casa do seu dono em honra de Deus e da Virgem Maria um Pai Nosso e uma Avé Maria." <br />Muitos são os ditados populares relacionados com esta temática tal como "Haja saúde e coza o forno" que é um sinal de que pelo menos a fome não atingia as suas gentes que desde que haja pão e vinho já se anda o caminho ... <br /> <br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-45011732516803524192011-07-21T02:17:00.000-07:002011-07-21T02:18:18.126-07:00henrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-57393635090347882762011-07-21T01:47:00.000-07:002011-07-21T01:52:47.380-07:00Num tempo em que se valoriza tanto a optimização de recursos, recuar uns tempos, analisar como a necessidade aguça o engenho, como o povo dá a volta ás crises e aos problemas que directamente os afectam poderá ser um exercício muito interessante. <br />O espírito comunitário sempre foi um traço vincado que marcou e marca este povo Transmontano, não muito habituado a reclamar do Estado tudo e mais qualquer coisa...<br />O forno comunitário de Alvarelhos é um marco histórico cultural da freguesia não muito valorizado, mas pelo menos tem se aguentando á erosão dos tempos. Hoje a necessidade de recorrer ao forno comunitário é menor porque foram construídos fornos particulares, porque a oferta em termos alimentares é mais diversificada, porque a população diminuiu e por tantos outros motivos ...<br />Em alturas festivas, em especial na Páscoa o forno ganha algum do ritmo de outros tempos em que o forno era partilhado e os pães ou folares eram marcados ao entrar no forno para não haver enganos depois de cozidos. O folar tão característico das nossas gentes tem neste e em muitos outros fornos a lenha muito do seu segredo culinário, a cozedura tem muito que se lhe diga. Os saberes ancestrais de como aquecer o forno ou o tipo de lenha a usar o deixar descair o forno antes de enfornar são coisas que não estão escritas em manuais de instruções mas que o nosso povo faz com tal mestria que parece que todos os dias fazem este serviço.<br />A fornada de pão que enchia uma giga e depois o" tarandeira" onde ficava até ser consumida, sem que ficasse muito enxuto, apesar de ser consumida dias para não dizer semanas depois, coisa quase impossível nos nossos dias... <br />Curiosa era a prática corrente do torna pão que consistia em emprestar pão ao vizinho ou vizinha até que esta cozesse e tornasse aquilo que tinha pedido emprestado, ninguém regateava o tamanho ou o sabor do pão que tinha sido alvo de empréstimo, reforçando desta forma os laços de comunidade. <br />Outra lembrança que guardo é a de uma malga de barro maior que o vulgar que ficava depositada em casa da Sr. Maria do Carmo com um bocado de massa fermentada que depois era utilizar como levedura na nova fornada. Esta levedura ia rodando pelos utilizadores do forno que tinham a obrigação de deixar a malga cheia para o próximo utilizador do forno.<br />O sentido comunitário das nossas gentes sempre foi muito apurado, não é por acaso que somos uma terra que tem baldios de utilização comum, regadio de utilização e limpeza comuns , existiu em tempos o Tronco que servia para ferrar, para olhar ou até para vacinar os animais mais ariscos também de uso comum, para lá de outros equipamentos que existem nesta e em muitas outras terras Transmontanas para os quais o Estado não contribuiu com como é o caso da casa paroquial que só foi possível pela força férrea do lider paroquial da altura o Rev.Padre Delmino, que muito ajudou esta freguesia com do seu esforço físico, intelectual e monetário.<br />A água do regadio " andar á roda" para de uma forma simples se tornar eficiente e ao mesmo tempo um bem disponível para todos. Ao domingo e quinta -feira é para o jericó das hortas da Água - levada o restantes dias a água rodava pelos campos onde chegava o rego. Hoje como diria o Sr. Brás " até se verte" porque há pouco para regar mas este equipamento ancestral registou talvez muitas das mais acesas quezílias entre vizinhos pois muitas das vezes era tornada por alguém mais desesperado que não queria ver passar sede ao seu "renovo" e infringia o que estava estabelecido, tempos houve em que se regava de noite e de dia com a ajuda de uns lampiões a petróleo para ver se a àgua chegava ao fim do rego.<br />A confecção do pão que é um dos alimentos base da alimentação das nossas gentes é uma tarefa muitas vezes partilhada e com um ritual cadenciado, quase sagrado onde a invocação a algo superior é inevitável pois um pequeno erro pode deitar por terra uma fornada de pão. Desde o aquecer do forno o amassar o pão , o deixar levedar, o rapar o forno, o deixar descair o forno, o enformar do pão, a oração após a entrada do pão no forno , o cozer do pão o retirar do pão do forno e dar-lhe a palmadinha para ver se já está cozido são tudo pequenos pormenores que fazem a diferença.<br />Somos um povo crente e temente a Deus e em grande parte das nossas actividades sejam elas laborais ou lúdicas a invocação a algo superior acontece e o fabrico do Pão não é excepção, daí a oração que diz o nosso povo após a entrada do Pão no forno seguida do sinal da cruz com a pá que enfornou o pão " Cresça o Pão no forno o bem por o mundo todo e a paz em casa do seu dono em honra de Deus e da Virgem Maria um Pai Nosso e uma Avé Maria." <br />Muitos são os ditados populares relacionados com esta temática tal como "Haja saúde e coza o forno" que é um sinal de que pelo menos a fome não atingia as suas gentes que desde que haja pão e vinho já se anda o caminho ... <br /> <br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-79721491120978314352010-12-30T03:43:00.001-08:002010-12-30T13:54:06.371-08:00O Boletim Paroquial de Alvarelhos Oucidres TinhelaCorria o ano da graça de 1965 quando foi publicado o primeiro Boletim Paroquial de Tinhela, e mais tarde estendeu-se a Alvarelhos e Oucidres. Obra da vontade e do punho do reverendo Pároco Padre Delmino Rodrigues Fontoura, que teve a seu cargo este rebanho, no inicio da sua vida sacerdotal.<br />Era um boletim que queria levar um pouco de alegria, uma palavra amiga, uma recordação grata, um bocadinho de amor pela nossa terra, a todos os que deixavam o torrão materno e partiam para Africa, Brasil, Europa, para Lisboa ou Porto ou para outros destinos na ânsia de encontrar um futuro melhor.<br />Nos dias de hoje as redes sociais a Internet e as comunicações moveis ou fixas fazem muito desse trabalho mas hà 45 anos atrás saber noticias da aldeia era muito difícil. Poucos eram os recebiam noticias das suas terras até porque a taxa de analfabetismo era muito elevada e poucas ou nenhumas eram as publicações, os jornais nacionais não traziam a não ser que acontecesse uma tragedia uma linha sobre estes lugares daí que este boletim com noticias da santa terrinha foi bem acolhido e motivo de orgulho de todos os nossos conterrâneos espalhados pelo Mundo.<br />Em 1965 posso dizer-vos que parecia estarmos na vanguarda e a este nível talvez até estivéssemos pois poucos teriam a sorte de estar nas roças Africanas e receber noticias como aconteceu com alguns dos nossos conterrâneos. <br />Posso dizer-vos porque ficou registado nas páginas do boletim paroquial “…a nossa rica estrada é alvo das nossas atenções e para a qual já pagámos o ano passado a quantia de 11.720$00 pelas três povoações interessadas – Tinhela, Alvarelhos e Lamas de Ouriço. Já está empreitada de Lamas de Ouriço a Alvarelhos, graças á preciosa colaboração de S. Exª o Sr. Presidente da Câmara e o Sr. Dr. Juiz António de Carvalho que não se tem poupado a sacrifícios para ver realizado o anseio do nosso povo. Oxalá que o sr. Empreiteiro nos faça o rompimento o mais depressa possível, são os nossos votos.” Isto talvez já não seja notícia mas aqui fica demonstrada a generosidade das nossas gentes pois muitas das obras às quais não damos grande valor só foram possíveis porque a determinação e o querer de outros que nos antecederam as tornaram possíveis. <br />Poderia falar-vos da rede eléctrica que chegou por esta altura ou da casa Paroquial de Alvarelhos ou das escolas primárias ou de outras obras que se foram realizando com os braços dos que ficavam e com o dinheiro dos que tinham partido.<br />O boletim foi publicado durante algum tempo e no fundo para lá de pequenas noticias, e da mensagem de boas festas que o pároco transmitia porque era publicado nesta quadra ele informava o movimento paroquial em óbitos, casamentos e baptizados.<br />O Padre Delmino, foi dos padres que mais marcou estas terras pois o seu dinamismo e a sua de forma de estar e de intervir excediam a as suas funções de Pároco e para ele com os votos de boas festas fica este apontamento que passados 45 anos e talvez daqui por mais 45 anos ainda possa ser recordado pois sem se aperceber estava a registar um dos momentos de mais prosperidade da freguesia.<br />Poderia trazer-vos outros recortes desses boletins que foram publicados mas isso fica para outra oportunidade, para já quero apenas dizer ás gerações mais novas que a nossa terra já teve um jornal assim como já teve muitas outras coisas das quais nos devemos orgulhar porque foram grandes na medida em que nós como freguesia somos apenas um punhado de homens livres.<br />A todos, onde quer que vos encontreis, desejo um próspero Ano de 2011.<br /><br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-1844537460523316582010-12-30T03:43:00.000-08:002010-12-30T03:44:57.714-08:00O Boletim Paroquial de Alvarelhos Oucidres TinhelaCorria o ano da graça de 1965 quando foi publicado o primeiro Boletim Paroquial de Tinhela, e mais tarde estendeu-se a Alvarelhos e Oucidres. Obra da vontade e do punho do reverendo Pároco Padre Delmino Rodrigues Fontoura, que teve a seu cargo este rebanho, no inicio da sua vida sacerdotal.<br />Era um boletim que queria levar um pouco de alegria, uma palavra amiga, uma recordação grata, um bocadinho de amor pela nossa terra, a todos os que deixavam o torrão materno e partiam para Africa, Brasil, Europa, para Lisboa ou Porto ou para outros destinos na ânsia de encontrar um futuro melhor.<br />Nos dias de hoje as redes sociais a Internet e as comunicações moveis ou fixas fazem muito desse trabalho mas à 45 anos atrás saber noticias da aldeia era muito difícil. Poucos eram os recebiam noticias das suas terras até porque a taxa de analfabetismo era muito elevada e poucas ou nenhumas eram as publicações, os jornais nacionais não traziam a não ser que acontecesse uma tragedia uma linha sobre estes lugares daí que este boletim com noticias da santa terrinha foi bem acolhido e motivo de orgulho de todos os nossos conterrâneos espalhados pelo Mundo.<br />Em 1965 posso dizer-vos que parecia estarmos na vanguarda e a este nível talvez até estivéssemos pois poucos teriam a sorte de estar nas roças Africanas e receber noticias como aconteceu com alguns dos nossos conterrâneos. <br />Posso dizer-vos porque ficou registado nas páginas do boletim paroquial “…a nossa rica estrada é alvo das nossas atenções e para a qual já pagámos o ano passado a quantia de 11.720$00 pelas três povoações interessadas – Tinhela, Alvarelhos e Lamas de Ouriço. Já está empreitada de Lamas de Ouriço a Alvarelhos, graças á preciosa colaboração de S. Exª o Sr. Presidente da Câmara e o Sr. Dr. Juiz António de Carvalho que não se tem poupado a sacrifícios para ver realizado o anseio do nosso povo. Oxalá que o sr. Empreiteiro nos faça o rompimento o mais depressa possível, são os nossos votos.” Isto talvez já não seja notícia mas aqui fica demonstrada a generosidade das nossas gentes pois muitas das obras às quais não damos grande valor só foram possíveis porque a determinação e o querer de outros que nos antecederam as tornaram possíveis. <br />Poderia falar-vos da rede eléctrica que chegou por esta altura ou da casa Paroquial de Alvarelhos ou das escolas primárias ou de outras obras que se foram realizando com os braços dos que ficavam e com o dinheiro dos que tinham partido.<br />O boletim foi publicado durante algum tempo e no fundo para lá de pequenas noticias, e da mensagem de boas festas que o pároco transmitia porque era publicado nesta quadra ele informava o movimento paroquial em óbitos, casamentos e baptizados.<br />O Padre Delmino, foi dos padres que mais marcou estas terras pois o seu dinamismo e a sua de forma de estar e de intervir excediam a as suas funções de Pároco e para ele com os votos de boas festas fica este apontamento que passados 45 anos e talvez daqui por mais 45 anos ainda possa ser recordado pois sem se aperceber estava a registar um dos momentos de mais prosperidade da freguesia.<br />Poderia trazer-vos outros recortes desses boletins que foram publicados mas isso fica para outra oportunidade, para já quero apenas dizer ás gerações mais novas que a nossa terra já teve um jornal assim como já teve muitas outras coisas das quais nos devemos orgulhar porque foram grandes na medida em que nós como freguesia somos apenas um punhado de homens livres.<br />A todos, onde quer que vos encontreis, desejo um próspero Ano de 2011.<br /><br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-3044369568252556092010-12-07T08:17:00.001-08:002010-12-07T08:22:03.245-08:00A Extracção MineiraNas décadas de trinta e quarenta, longe dos interesses definidos por Salazar, que conseguiu manter o País neutro apesar da situação explosiva a nível mundial, muitos Transmontanos sonharam e acreditaram nesta terra tão agreste e tão madrasta. Salazar, soube negociar com ambas as partes envolvidas na II Guerra Mundial, usou o Volfrâmio para fortalecer os cofres da Nação, ao mesmo tempo, nestes recônditos lugarejos o povo sonhava com o el dourado que se escondia nas entranhas das nossas serranias, era a Febre do Volfrâmio, que atacava em força e a perspectiva de um futuro melhor, foi a revolução industrial de Tás-os-Montes, que não passou de uma febre.<br />Com a II Guerra Mundial como cenário de fundo a exploração mineira sofreu um forte incremento e várias foram as serras que através de poços ou minas foram esventradas na ânsia de extrair o tão procurado minério.<br />A freguesia de Alvarelhos registou um pico populacional durante o período em que a actividade mineira na freguesia teve mais actividade, não só pelo emprego gerado mas sobretudo porque as perspectivas de emigração eram à época muito reduzidas. O trabalho na mina ou no poço poderia não ser muito atractiva mas era das poucas actividades que permitiam uma jorna e desta forma um pedaço de pão para família. <br /> O volfrâmio foi a subsistência de muita gente, este minério era utilizado no fabrico de armas e munições daí a sua importância neste conflito e na economia mundial. A exploração inicialmente controlada por empresas Inglesas e Germânicas, mais tarde por pequenas empresas locais bastante vulneráveis, permitindo que grande parte do minério fosse contrabandeado e vendido no mercado paralelo. Não se sabendo ao certo a quantidade de minério extraído na freguesia na região ou no País, as empresas de maior dimensão como as minas da Borralha em Montalegre eram mais controladas e muitas das vezes absorviam o minério extraído de empresas de menor dimensão.<br />Muitos foram os que participaram nesta empreitada, felizmente ainda existem alguns vivos, mas a cada ano que passa, vamos perdendo muitas dessas memórias, das vivências, das rotinas de quem trabalhava na mina. Aqui se conheceram, namoraram e alguns chegaram mesmo a casar, as minas juntaram neste local pessoas de Lamas de Ouriço, Alvarelhos, Vila Nova, Oucidres e Tinhela, numa jornada dura, mas para estas gentes habituadas aos trabalhos agrestes do campo, onde suportam nove meses de Inverno e três de inferno, o trabalho no minério não era fácil mas a vida neste período dentro ou fora da mina era de muitas carências.<br />A extracção mineira na freguesia era dirigida pelo senhor Lobo que residia em Chaves local para onde era encaminhada toda a extracção depois de lavada na ribeira de Lamas de Ouriço. O minério era transportado em carros de bois atravessando a serra até à cidade de Chaves onde terminava a extinta linha do corgo, que servia para transportar o minério para o seu destino final.<br />O Sr. Lobo era um homem bastante conhecido na região apesar de não ser natural da freguesia era frequente encontra-lo na serra onde acompanhava muitos dos trabalhos das minas ou poços. <br />As minas da Ribeira de Lamas de Ouriço resistiram ao tempo, as galerias e poços escavados, a cabana do guarda têm resistido, mas muitas foram as alterações que aconteceram na paisagem, a estrada municipal principal acesso à freguesia fez desaparecer os tanques de lavagem do minério a construção de privados esconderam as galerias e muitos dos utensílios que foram desaparecendo e hoje as minas estão mais que esquecidas, numa primeira fase foram esquecidas para reduzir acidentes e posteriormente abandonadas.<br />A propriedade destes espaços não me parece que algum dia tenha sido reclamado, as minas encontram-se em terreno baldio, Florestado com bons acessos localizadas no centro da freguesia de Alvarelhos. A Junta de Freguesia aproveitou a água da mina para o abastecimento da rede pública e colocou um portão para evitar o acesso a uma das galerias. <br />As memórias das minas estão prestes a desaparecer os que trabalharam neste local estão hoje com mais de 65 anos e ainda que tenham ali passado momentos muito fortes de grandes alegria e sofrimento, aquilo que consegui recolher de alguns relatos é que o dia a dia também era repleto de boa disposição e alegria onde as apostas, as alcunhas e outras brincadeiras também tinham lugar.<br />Não sei ao certo durante quanto tempo durou esta exploração, porque ela se arrastou no tempo ainda que menos rentável, depois do Sr. Lobo, foi dirigida por um dos capatazes o Sr. João David de Lamas de Ouriço até ao seu abandono ou encerramento, alguns dos que ali trabalhavam aproveitaram o fim da guerra e a falta de mão-de-obra na Europa e partiram logo de seguida para a França e para Alemanha a salto, clandestinamente. Estes levaram outros e de geração em geração a freguesia a região e o País foi perdendo população.<br />As minas abandonadas foram esquecidas, ainda não vi ou ouvi nenhum político fazer qualquer proposta para este local, acredito que nem tenham conhecimento delas, daí o interesse de que se reveste este texto, para divulgar e porque não propor a quem tem o poder de decidir. Acredito que os nossos políticos estejam demasiado ocupados e não tenham tempo nem imaginação para valorizar este local e esta freguesia.<br />Aproveitando o que resta dos fundos comunitários não seria interessante revitalizar este espaço criando na parte da frente das minas um espaço museológico sobre esta temática aproveitando uma das galerias da mina para galeria de exposições. Aproveitar a zona florestada para um parque de merendas, reconstruir o moinho e os tanques de lavar o minério na ribeira de Lamas de Ouriço e construir-lhe um acesso pedonal quer do lado Norte, Lamas de Ouriço quer do lado Sul Alvarelhos, sinalizar e preservar o buraco que serviu de tecto aos refugiados da Guerra Civil Espanhola.<br />Senhores políticos mesmo que não se queiram candidatar a fundos comunitários estes melhoramentos não implicam grande investimento, pois grande parte do local a intervencionar é propriedade da Junta de Freguesia. <br /> <br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-73378490549044078422010-09-27T04:39:00.000-07:002010-09-27T04:40:58.864-07:00A Estrada do ChícharoAo longo dos tempos foi perdendo muita da sua importância porque os senhores presidentes de câmara numa lógica eleitoralistas sempre se preocuparam com votos em vez do desenvolvimento e fortalecimento regional, a estrada do chícharo foi em tempos a espinha dorsal da Serra Negra aproximando as populações de Friões, Barracão, Mosteiró de Cima, S. Julião, Vila Nova de Monforte, Avelelas, Oucidres, Alvarelhos, Bobadela, Tronco etc… <br />Percurso de contrabandistas e de tantos que queriam fugir aos itinerários principais, a estrada da serra sempre foi uma alternativa, porque pouco movimentada e pouco fiscalizada. <br />A estrada do chícharo voltou novamente à baila com a notícia do futuro aeródromo intermunicipal a construir pelos municípios de Chaves e Valpaços na Serra Negra (Barracão). Desde que me conheço como gente já ouvi falar desta obra vezes a mais sem que nada, rigorosamente nada fosse feito. A afectação dos dinheiros públicos devem pautar-se por critérios que não vou enunciar, mas também transmite a visão futurista ou conservadora ou a falta de visão que afecta muitos dos nossos políticos/governantes.<br />Num País que gastou grande parte dos fundos comunitários no reforço da rede rodoviária, parece-me cataratas aquilo de que sofrem alguns lideres regionais, que continuam a ver as suas terras completamente encravadas, afastadas dos grandes eixos rodoviários nacionais e internacionais, optando por gastar os dinheiros públicos na requalificação de curvas como as da EN 213, justificando a opção com a morte das aldeias que são servidas pela referida Estrada Nacional.<br />A estratégia ou a falta dela para um desenvolvimento harmonioso a nível regional ou municipal, mais uma vez fica clara, hoje ouvimos os autarcas a defender esta localização e este investimento público, no futuro uma parceria mais alargada leva este projecto para a Serra da Padrela, isto se não surgir ninguém a defender a sua localização na Serra do Perdigão ou em outro sítio deste fim de mundo. Por fim vamos ter a tal obra financiada por fundos comunitários lá para os lados de Verin em terras de nuestros hermanos, porque nós Tugas somos incapazes de programar e defender o mesmo projecto por mais de quatro anos, assim como definir uma estratégia que tenha um horizonte temporal superior a um ano.<br />A nossa tendência egocêntrica de copiar e desejar tudo o que o vizinho tem, traduz-se numa falência completa a nível regional, pois tudo o que seja inovação e até possa fazer algum sentido num município nosso vizinho torna-se fastidioso e perde dimensão quando replicado vezes sem conta por toda a região.<br />As associações de municípios têm servido para muito pouco, (tachos), traduzem-se em mais um esfrangalhar administrativo sem resultados, sem objectivos e mais grave sem recursos e sem força politica para impor decisões ou projectos que são vitais para a região, mas porque não estão localizados nas vilas e cidades transmontanas, não avançam penalizando duplamente as freguesias mais pequenas e mais afastadas das sedes de município num território já de si fragilizado. <br />Os acessos ao tal aeródromo já poderiam e deveriam estar executados mas não estava previsto nenhum aeródromo, como tal gastou-se os recursos públicos na requalificação da EN. A ligação ao nó de Feces e consequentemente à Europa ligando a A7 à A4, passando pela Cidade de Valpaços fica para a depois do aeródromo. Sim porque este só faz sentido se tiver acessos facilitados e um tecido empresarial que justifique a sua existência caso contrario é mais um elefante branco que alguém tem que sustentar …<br />Não é novidade para ninguém a crise financeira que o País atravessa, que com toda a certeza servirá de justificação para que esta obra não passe de blá, blá blá e conversa fiada, mas demonstra a falta de estratégia regional e municipal.<br />Continuámos muito preocupados com o túnel do Marão, contribuímos directamente para a sua construção quando aqui ao lado atravessando a Ribeira de Feces temos Cidades e Vilas que nos dariam muito mais, que aquilo que vamos trazer ou levar para lá do Marão…<br />Quanto se gastou de fundos comunitários no reforço da coesão regional Norte/Galicia? Só Chaves é que tem a ganhar com a Euro-Cidade? O Eixo Atlântico também chega a Valpaços e à restante Região? Estes senhores só fazem palestras e congressos ou os nossos políticos/governantes locais só saem quando vão de férias ou para os congressos do Partido? <br />Deixei de manifestar a minha opinião relativamente a muitos dos assuntos que vão agitando as hostes Valpacenses, mas como este assunto diz respeito aos fregueses da montanha resolvi tecer estes breves comentários, relembrando a velha estrada do chícharo porque vou continuar a ouvir falar do famigerado aeródromo que tarde ou nunca chegará …<br /><br /><br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-42772484217827739902010-04-19T03:54:00.002-07:002010-04-19T03:56:57.993-07:00Cruzeiros da nossa TerraAs cruzes em pedra tiveram e têm diversas finalidades, eram termos de propriedade (marcos), prova de domínio e de administração da justiça quando associadas a pelourinhos, simbolizavam casas de bem e de proprietários abastados quando colocados nas portadas e cornijas das habitações, eram protectoras quando de uma forma rudimentar se lavravam nas padeiras das portas por famílias de menos recursos económicos a cruz como elemento sagrado, portanto respeitado por todos, durante a Idade Media surgíramos Calvários e as Vias-sacras para lembrar ao homem que a sua passagem terrena é de sacrifícios e contradições. <br />Os cruzeiros, normalmente, são grandes blocos graníticos, bastante vulgares nestas paragens, símbolos da religiosidade do nosso povo, encontram – se espalhados por todo o território da nossa freguesia. São marcos da força da fé Cristã, quase sempre erguidos em memória de ocorrências dignas de registo por motivos dramáticos ou de grandes feitos a nível individual ou colectivo.<br />Muitos desses monumentos graníticos escondem ou mantém vivas essas memórias.<br /> <br /><br />Existe na nossa freguesia um conjunto de cruzeiros que apesar das suas dimensões ao longo dos anos têm mudado de sítio, felizmente nenhum foi danificado ou destruído porque aquilo que muitos desconhecem é o motivo da sua edificação. Eles foram erguidos para comemorar um grande feito para a aldeia de Alvarelhos, não sei se é caso único no Município, pois não tenho conhecimento de mais nenhum caso semelhante.<br />Existem quatro cruzeiros sem qualquer inscrição aparente assentes em robustos blocos graníticos, colocados em data que também desconheço. Estavam colocados de forma a verem-se uns aos outros e nas quatro entrada da aldeia. Neste momento os que permanecem nos sítios originais são o que está nas fragas do prado e o que está no caminho do seixal o que estava no caminho de Santiago (Barro Vermelho) foi transferido para o cemitério paroquial e o que estava nas Penedas, foi inicialmente absorvido pela casa construída pelo Sr. António Moreira e por esta se encontrar em ruínas a Junta de Freguesia retirou-o e coloco-o um pouco mais abaixo. Através dos cruzeiros podemos analisar o crescimento da aldeia assim como a construção das novas vias de comunicação ao longo do tempo. <br />Quando foram erguidos estes cruzeiros foram colocados nos principais caminhos que eram: o caminho da Ribósia que fica a nascente e ligava a Tinhela, o caminho de Santiago que ligava a Vila Nova de Monforte e Oucidres o caminho do Seixal que vinha de Lamas de Ouriço e seguia para Tinhela e neste lugar poderia derivar para Agordela e o caminho da Serra que ligava a São Julião de Montenegro, os cruzeiros estavam colocados nestas vias.<br /><br />Durante largos anos as aldeias que faziam parte do concelho de Monforte de Rio Livre tinham que reforçar ou fazer a guarda do Castelo de forma a garantir a segurança deste e das suas parcas gentes.<br />O Castelo de Monforte de Rio – Livre, castelo raiano era um ponto de vigia para os possíveis avanços de Castela, pela sua localização registava as movimentações de possíveis inimigos e defendia as suas gentes desses invasores.<br />Em data que desconheço ficou a aldeia de Alvarelhos isenta de fazer a guarda ao referido Castelo, para celebrar este acontecimento foram erguidos os referidos cruzeiros e colocados nas entradas da aldeia, conforme registo oral de várias pessoas algumas delas já falecidas.<br />Os cruzeiros chegaram aos nossos dias e poucos têm conhecimento do simbolismo que eles representam porque não existem registos escritos deste facto que foi passando de geração em geração nos longos serões de Inverno antes de chegar a televisão ás nossas pacatas vidas.<br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-44809931571418569682010-04-19T03:54:00.001-07:002010-04-19T03:56:48.330-07:00Cruzeiros da nossa TerraAs cruzes em pedra tiveram e têm diversas finalidades, eram termos de propriedade (marcos), prova de domínio e de administração da justiça quando associadas a pelourinhos, simbolizavam casas de bem e de proprietários abastados quando colocados nas portadas e cornijas das habitações, eram protectoras quando de uma forma rudimentar se lavravam nas padeiras das portas por famílias de menos recursos económicos a cruz como elemento sagrado, portanto respeitado por todos, durante a Idade Media surgíramos Calvários e as Vias-sacras para lembrar ao homem que a sua passagem terrena é de sacrifícios e contradições. <br />Os cruzeiros, normalmente, são grandes blocos graníticos, bastante vulgares nestas paragens, símbolos da religiosidade do nosso povo, encontram – se espalhados por todo o território da nossa freguesia. São marcos da força da fé Cristã, quase sempre erguidos em memória de ocorrências dignas de registo por motivos dramáticos ou de grandes feitos a nível individual ou colectivo.<br />Muitos desses monumentos graníticos escondem ou mantém vivas essas memórias.<br /> <br /><br />Existe na nossa freguesia um conjunto de cruzeiros que apesar das suas dimensões ao longo dos anos têm mudado de sítio, felizmente nenhum foi danificado ou destruído porque aquilo que muitos desconhecem é o motivo da sua edificação. Eles foram erguidos para comemorar um grande feito para a aldeia de Alvarelhos, não sei se é caso único no Município, pois não tenho conhecimento de mais nenhum caso semelhante.<br />Existem quatro cruzeiros sem qualquer inscrição aparente assentes em robustos blocos graníticos, colocados em data que também desconheço. Estavam colocados de forma a verem-se uns aos outros e nas quatro entrada da aldeia. Neste momento os que permanecem nos sítios originais são o que está nas fragas do prado e o que está no caminho do seixal o que estava no caminho de Santiago (Barro Vermelho) foi transferido para o cemitério paroquial e o que estava nas Penedas, foi inicialmente absorvido pela casa construída pelo Sr. António Moreira e por esta se encontrar em ruínas a Junta de Freguesia retirou-o e coloco-o um pouco mais abaixo. Através dos cruzeiros podemos analisar o crescimento da aldeia assim como a construção das novas vias de comunicação ao longo do tempo. <br />Quando foram erguidos estes cruzeiros foram colocados nos principais caminhos que eram: o caminho da Ribósia que fica a nascente e ligava a Tinhela, o caminho de Santiago que ligava a Vila Nova de Monforte e Oucidres o caminho do Seixal que vinha de Lamas de Ouriço e seguia para Tinhela e neste lugar poderia derivar para Agordela e o caminho da Serra que ligava a São Julião de Montenegro, os cruzeiros estavam colocados nestas vias.<br /><br />Durante largos anos as aldeias que faziam parte do concelho de Monforte de Rio Livre tinham que reforçar ou fazer a guarda do Castelo de forma a garantir a segurança deste e das suas parcas gentes.<br />O Castelo de Monforte de Rio – Livre, castelo raiano era um ponto de vigia para os possíveis avanços de Castela, pela sua localização registava as movimentações de possíveis inimigos e defendia as suas gentes desses invasores.<br />Em data que desconheço ficou a aldeia de Alvarelhos isenta de fazer a guarda ao referido Castelo, para celebrar este acontecimento foram erguidos os referidos cruzeiros e colocados nas entradas da aldeia, conforme registo oral de várias pessoas algumas delas já falecidas.<br />Os cruzeiros chegaram aos nossos dias e poucos têm conhecimento do simbolismo que eles representam porque não existem registos escritos deste facto que foi passando de geração em geração nos longos serões de Inverno antes de chegar a televisão ás nossas pacatas vidas.<br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-46270516042539955342009-12-14T06:52:00.000-08:002009-12-14T06:58:40.287-08:00Dos contra-fortes da MontanhaEncravada no sopé dos morros, que delimitam a fronteira do isolamento, o Calvo tem o mesmo nome do ribeiro que rega os campos onde abundam hoje pastos semi-abandonados.<br /> Outrora terra de moleiros que ao longo do curso da água iam construindo as suas azenhas e moendo dia e noite as dificuldades da vida.<br /> O Calvo nunca foi uma aldeia muito próspera mas era e continua a ser um aprazível e muito soalheiro local.<br /> Hoje da pacata e calma aldeia ou quintarola pouco mais resta que grandes amontoados de pedra que já serviram de abrigo, de alegria e de orgulho a quem os construiu: hoje apenas os coelhos e alguns répteis povoam a zona, escondendo-se ao menor ruído.<br /> O Calvo é um mitigo povoado que vai desaparecendo com o passar dos tempos até se apagar por completo das nossas memórias.<br /> Recorde-se que o calvo serviu para efectuar a Romanização dos povos castrejos que se encontravam guarnecidos no cimo de alguns morros, servindo o rio como estrada de orientação, pois só assim e neste contexto se compreendem a constituição de aldeamentos como Calvo, Cachão, Agordela, sendo esta última uma colónia administrativa ou ponto de troca de produtos entre Romanos e as populações castrejas.<br /> O Calvo encontra-se também a delimitar uma zona natural que o homem ao longo dos tempos respeitou sem se aperceber, a sul desta pequena aldeia a terra quente, a norte a terra fria, existindo aí (Calvo) um micro-clima bastante especial.<br /> A terra quente povoada mais intensamente a partir da Romanização com a introdução da cultura da vinha e da oliveira, as principais fontes de riqueza da região.<br /> A terra fria povoada desde os remotos aqui se encontram grande parte dos castros, pois nesta região, a estação seca não é tão intensa e encontravam com mais abundância pastagens para a agro-pecuária (pastorícia) dos povos primitivos.<br /> A terra quente possui desde a romanização produtos mais facilmente comercializáveis, daí a existência de moeda e de um enriquecimento mais fácil por parte dos proprietários rurais que se traduz nas casas solarengas que se encontram na parte sul ou terra quente.<br /> Com a introdução da batata e da criação de gado, nomeadamente o leiteiro e a exploração de alguns minerais e a comercialização mais intensa da castanha, a terra fria e as suas humildes aldeias começaram a ter melhores condições de vida.<br /> Dos contra Fortes da Montanha aparecerá sempre a despertar e a enriquecer a monografia que é de todos nós; não para que os nossos filhos tenham orgulho da sua terra, mas para que os nossos filhos não tenham que fugir dela; para que continuem também eles a pisar os nossos caminhos, a labutar para que os seus filhos continuem também eles aqui.<br /> Será que os filhos do Calvo ou do Cachão já não se orgulham a ter nascido lá?<br /> Não vos peço para visitar o Calvo ou o Cachão, porque abrir a boca e dizer que interessante, que beleza natural é o que ultimamente se tem feito e como tal, é preferível não conhecer; que participar no pecado de nada fazer.<br />Artigo de Henrique Rodrigues – ( Jornal “ Negócios de Valpaços “ Abril/1995 )<br /><br />Quando em 1995 escrevi este texto não estava no meu horizonte passados 14 anos vir a encontra-lo publicado no sito da Junta de Freguesia de Santa Valha, mas quis o destino que eu o voltasse a reler e para mal dos meus pecados, hoje, sou um fugitivo dessas paragens…<br />O conteúdo continua totalmente válido e actual, passou a febre dos fundos comunitários, dos turismos de habitação e o pouco, que é muito porque nunca ninguém fez mais, que eu tenha conhecimento, deve-se ao Dr. Adérito Freitas que calcorreou esses acidentados territórios para nos deixar uma publicação daquela que era a principal actividade do povoado do Calvo.<br />O Dr. Adérito Freitas foi dos poucos que participou no pecado de conhecer e fez qualquer coisa e por isso o meu bem-haja, pois só desta forma é possível não deixar morrer pelo menos a memória… <br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-38313723750722708672009-12-03T02:55:00.000-08:002009-12-03T02:58:48.960-08:00CAMINOS DE SANTIAGONum tempo tão cronometrado onde as milésimas de segundo já são muito tempo, parece não fazer sentido falar em longas caminhadas … Peregrinações têm odor medieval, onde as deslocações se arrastavam no tempo, hoje parecem uma eternidade.<br />Tal como escreve o poeta espanhol António Machado “o caminho faz-se caminhando” e a nossa “peregrinação” pode implicar o nosso quintal o nosso planeta ou nos dias de hoje sair desta orbita. O Homem tem necessidade de peregrinar, de conhecer, de sair da rotina, de viajar, de se lançar em novas empreitadas, de se renovar em cada estação do ano, do eterno devir do dia e da noite.<br />A humanidade deve muito a estes aventureiros insatisfeitos que calcorrearam serranias por questões diversas, disseminando conhecimentos e formas de estar na vida e na sociedade.<br />As peregrinações a Lugares Sagrados remontam aos meados do século IX isto no mundo Cristão porque o no mundo Islâmico as peregrinações a Meca já aconteciam, Santiago de Compostela desde muito cedo foi um dos lugares de maior peregrinação em todo o mundo.<br />Os Caminhos de Santiago são aqueles que mais romeiros movimentaram por toda a Península Ibérica durante a Idade Media, muitos deles aproveitaram as antigas Vias Romanas, os leitos dos rios e os movimentos comerciais que se iam fazendo em termos regionais, uma vez que a rede viária era deficitária. Os peregrinos iam apanhando boleia de outros grupos de pessoas que se deslocavam e com quem conviviam durante um determinado período ou troço do seu percurso.<br />Estes Caminhos, têm hoje uma maior divulgação e despertam maior atenção fruto do bom relacionamento que hoje existe entre Portugal e Espanha e da importância que Compostela tem no turismo Galego. Estes itinerários no passado eram muito complicados uma vez que o povoamento era pouco, as vias acidentadas e isoladas por densas matas, uma vês que muitas das aldeias e lugarejos que hoje existem surgiram depois do reinado de D. Dinis que mandou edificar o Castelo de Monforte de Rio Livre e povoar estas terras raianas com o objectivo evitar o avanço dos castelhanos. <br />Redescobrir os Caminos de Santiago leva-me hoje a falar do Caminho que ligava as margens do Tua (Romeu – Mirandela a Monterrey na Galiza) os caminheiros tinham variadas alternativas mas quanto maior fosse o grupo mais facilmente enfrentavam as adversidades. Estes trilhos foram mais tarde utilizados como rotas de contrabando entre os dois Países.<br />Existiram por toda esta região inúmeros albergues e hospitais que acolhiam, alimentavam e prestavam o mais variado apoio aos peregrinos que caminhavam em média 5 a 6 léguas por dia. Ao definir este troço do caminho entre a aldeia de Romeu e Osoño na Galiza estou a assumir que nestes locais existiram albergues ou hospitais onde se reuniam e apoiavam peregrinos.<br />Utilizavam este caminho os peregrinos que se deslocavam da Terra Quente Transmontana e da Bacia do Douro, após atingirem a aldeia de Romeu e a aí pernoitar iniciam nova etapa tomando a direcção de Vale de Salgueiro seguindo o Rio Rabaçal até atingir a antiga via romana perto da Aldeia de Valtelhas entrando no município de Valpaços pela freguesia dos Possacos, subindo em direcção a Vale de Casas até atingir o termo de Vilarandelo, daí seguiam em direcção á Murada de Lamas – de – Ouriço e desta até á Capela de Santiago do Monte ou também conhecida por Santiago da Amoreira, aí entravam no Município de Chaves pela freguesia de Oucidres e dali seguiam em direcção a Mairos cruzando a fronteira até atingir Osoño na Galiza e onde pernoitavam e se juntavam a outros peregrinos com o mesmo destino. Existia e ainda existe a crença muito enraizada, nas pessoas mais idosas de que “Quem não for a Santiago em vida irá lá depois de morto”. Ainda se reza a seguinte oração depois de defunto confirmado, calça-se e diz-se “alma vai pra Santiago” tendo como crença que as almas passam por esta localidade Galega. <br />Estes trajectos que hoje teriam que ter coordenadas “GPS” fazem todo o sentido e é por esse motivo que por toda a Galiza encontrámos a sinalética de Caminos de Santiago e entre nós temos alguns troços sinalizados não só dos Caminos de Santiago como das Vias Romanas, seria bom que se alargasse esta sinalização, mas seria mais importante que se recuperasse e se divulgasse aquele que foi o património edificado associado às peregrinações.<br /> O Santiago da Amoreira já não existe em termos de Capela edificada, mas existe o lugar e muitas lendas associadas ao Santo, que um dia contarei, é um dever das autoridades locais não se pouparem a esforços para divulgar e preservar este património supra municipal que nunca foi reconhecido estudado e lamentávelmente nem divulgado.<br /><br /><br />Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-51514118402105142262009-11-27T06:43:00.000-08:002009-11-27T06:44:12.462-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk_wf7U2EV8udq9csVGPUEdE67mhE_Db2QNLOwPG6_Qm14g3KO31zHPauocaPrZh0dMwcJ6BuKyNV5m2hBvEvQDfOG9lKXiE29YUEvAj2DQUEzrfn4uYxobZWUM7PYkqPcXL5wOsTGSmM/s1600/ouriço.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408794215952282162" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 238px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk_wf7U2EV8udq9csVGPUEdE67mhE_Db2QNLOwPG6_Qm14g3KO31zHPauocaPrZh0dMwcJ6BuKyNV5m2hBvEvQDfOG9lKXiE29YUEvAj2DQUEzrfn4uYxobZWUM7PYkqPcXL5wOsTGSmM/s320/ouri%C3%A7o.jpg" border="0" /></a><br /><div></div>henrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-52104372228109243552009-11-26T01:31:00.000-08:002009-11-26T02:06:29.325-08:00Lei da Memoria HistóricaPassaram 70 anos mas as feridas ainda não sararam, a terapia do esquecimento pode ter pacificado o passado mas não o resolveu…<br />A Guerra Civil Espanhola foi do outro lado da rua e por consequência na nossa rua, somos raianos, ainda que desde crianças, tenhamos ouvido o ditado popular “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”, foi a nós que muitos deles recorreram nesse período doloroso, trágico e de aflição e é a eles que nós recorremos quando o ambiente interno começa a ficar pesado.<br /> Os “Vermelhos “ como eram conhecidos os foragidos e perseguidos dos dois lados da fronteira por convicções políticas e ideológicas refugiaram-se nestas serranias, apoiados muitas vezes pelas populações locais que com o seu silêncio conivente protegiam e alimentavam, mais algumas bocas, em tempos de fome, em que tudo era racionado e controlado.<br />Os filões do Volfrâmio criaram postos de trabalho por estas terras sedentes de uma actividade lucrativa, a extracção destes minerais, suportavam a máquina de guerra e os desejos Nazis de dominar o Mundo. Estes braços que volviam as entranhas das serras apenas alimentavam o sonho da sobrevivência a guerra ali ao lado apenas escoava de forma lícita ou ilícita aquilo que era arrancado a ferros.<br />A década de 1940 por estas terras apresenta um pico demográfico que se justifica pela actividade extractiva que se desenvolveu e pelo conflito interno Espanhol e Europeu que se lhe seguiu, que não permitiram a fuga para emigração.<br />Os nuestros ermanos carregam o peso da brutalidade que o Generalíssimo Francisco Franco lhe impôs ao conquistar a Espanha aos Espanhóis, após a morte de duzentas mil pessoas e prisão de um milhão em campos de concentração, este país ficou com feridas abertas e com muito sangue derramado. A Guerra Civil Espanhola serviu de tubo de ensaio à II Guerra Mundial a todos os níveis, não só bélico.<br /> A nossa proximidade geográfica e ideológica levou muitos Portugueses a envolver-se directa e indirectamente no conflito do qual ainda guardámos algumas mazelas, para não dizer feridas como o que ocorreu em Cambedo da Raia (Chaves) em 22 de Dezembro de 1946, silenciada e deturpada pela comunicação social da altura e pouco divulgada nos dias de hoje.<br />A aldeia foi cercada e violentamente atacada porque supostamente acolhia dissidentes da Guerra Civil Espanhola o Tribunal Militar do Porto humilhou, massacrou, torturou e condenou a quase totalidade dos moradores da aldeia. Esta operação orquestrada pelas autoridades Lusas visava um efeito dissuasor de não acolhimento dos tais bandoleiros, bandidos, contrabandistas, assaltantes, culpados de todos crimes que ocorriam por estas bandas. <br />A Guerra Civil Espanhola foi vivida e sentida intensamente pelas populações raianas e nunca lhe foi dada a importância e relevância que estes acontecimentos tiveram e a prova disso é a necessidade que os políticos espanhóis tiveram de passados 70 anos publicarem uma lei, a” Lei da Memoria Histórica” que fractura e mexe com os sentimentos de todo um povo.<br />A lei da memória histórica pode não ter efeitos jurídicos, podem não servir para apontar culpados, pode não repor justiça mas pelo menos serve para mostrar ao mundo o que foi o ensaio da Guerra do Extermínio e o privar as famílias de velar e chorar os seus mortos.<br />Se existem convenções internacionais a permitirem a busca e localização de desaparecidos não fazia sentido privar o povo Espanhol dos seus mártires que foram sepultados em valas comuns um pouco por toda a Espanha.<br />Os 70 anos da Guerra Civil Espanhola foram o mote mas na verdade aquilo que pretendo com estas humildes palavras é homenagear aqueles que resistiram e aqueles que os acolheram, como disse Aristides de Sousa Mendes “Não participo em chacinas e por isso desobedeço a Salazar”, também aqui felizmente houve quem não acatasse as ordens, quem desafiasse a sorte e nunca fosse reconhecido e no entanto salvou algumas vidas, alimentou algumas bocas, arriscou a sua pele.<br />Aristides de Sousa Mendes tardiamente foi reconhecido, mas quantos de vós já ouviu falar do vosso conterrâneo João David Alves?<br /> Em quantas praças ruas ou vielas já viste este nome?<br /> A diferença entre um Homem e um Grande Homem esta na coragem com que enfrentámos os nossos medos, na determinação com que abraçamos as causas e na intensidade com que vivemos os nossos dias.<br />João David Alves já faleceu não o conheci pessoalmente, conheço alguns dos seus familiares, o Monumento que nos legou é anterior ao Vale dos Caídos não tem a imponência deste, mas nele está reflectida a realidade que se vivia nestas terras raianas em 1939. Feliz ou infelizmente chegou aos nossos dias, ainda que não conste dos roteiros turísticos e a nível municipal ainda não mereceu uma única referencia…<br />Foi erguido pelos mesmos vencidos que ergueram o Vale dos Caídos, por refugiados que eram procurados dos dois lados da fronteira, que encontraram em Lamas de Ouriço, João David e uma encosta esquecida onde cavaram um buraco (mina sem água e sem minério) e se esconderam.<br />Estes Homens foram alimentados por João David silenciados pelos vizinhos estiveram ali por um largo período e este Homem tal como os habitantes de Cambedo da Raia salvaram vidas e arriscaram a própria vida.<br />Será um acto de elementar justiça que as autoridades municipais se debruçassem sobre este e sobre outros períodos da nossa história pois em todo tempo o povo Transmontano sempre pôs em prática aquilo que muitos apenas deixam nos discursos. <br />Lamas de Ouriço e este Homem são o exemplo que no anonimato e no silêncio também se travam intensas batalhas das quais nos devemos orgulhar… à luta do Povo Espanhol também teve capítulos que se desenrolaram no outro lado da rua…<br /> <br /><br /><br /> Henrique Rodrigueshenrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3292318513284645832.post-64491693070303847112009-11-26T01:22:00.000-08:002009-11-26T01:28:07.064-08:00"Os desafios podem ser degraus ou obstáculos"henrique rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/04683810239072567767noreply@blogger.com0