segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cruzeiros da nossa Terra

As cruzes em pedra tiveram e têm diversas finalidades, eram termos de propriedade (marcos), prova de domínio e de administração da justiça quando associadas a pelourinhos, simbolizavam casas de bem e de proprietários abastados quando colocados nas portadas e cornijas das habitações, eram protectoras quando de uma forma rudimentar se lavravam nas padeiras das portas por famílias de menos recursos económicos a cruz como elemento sagrado, portanto respeitado por todos, durante a Idade Media surgíramos Calvários e as Vias-sacras para lembrar ao homem que a sua passagem terrena é de sacrifícios e contradições.
Os cruzeiros, normalmente, são grandes blocos graníticos, bastante vulgares nestas paragens, símbolos da religiosidade do nosso povo, encontram – se espalhados por todo o território da nossa freguesia. São marcos da força da fé Cristã, quase sempre erguidos em memória de ocorrências dignas de registo por motivos dramáticos ou de grandes feitos a nível individual ou colectivo.
Muitos desses monumentos graníticos escondem ou mantém vivas essas memórias.


Existe na nossa freguesia um conjunto de cruzeiros que apesar das suas dimensões ao longo dos anos têm mudado de sítio, felizmente nenhum foi danificado ou destruído porque aquilo que muitos desconhecem é o motivo da sua edificação. Eles foram erguidos para comemorar um grande feito para a aldeia de Alvarelhos, não sei se é caso único no Município, pois não tenho conhecimento de mais nenhum caso semelhante.
Existem quatro cruzeiros sem qualquer inscrição aparente assentes em robustos blocos graníticos, colocados em data que também desconheço. Estavam colocados de forma a verem-se uns aos outros e nas quatro entrada da aldeia. Neste momento os que permanecem nos sítios originais são o que está nas fragas do prado e o que está no caminho do seixal o que estava no caminho de Santiago (Barro Vermelho) foi transferido para o cemitério paroquial e o que estava nas Penedas, foi inicialmente absorvido pela casa construída pelo Sr. António Moreira e por esta se encontrar em ruínas a Junta de Freguesia retirou-o e coloco-o um pouco mais abaixo. Através dos cruzeiros podemos analisar o crescimento da aldeia assim como a construção das novas vias de comunicação ao longo do tempo.
Quando foram erguidos estes cruzeiros foram colocados nos principais caminhos que eram: o caminho da Ribósia que fica a nascente e ligava a Tinhela, o caminho de Santiago que ligava a Vila Nova de Monforte e Oucidres o caminho do Seixal que vinha de Lamas de Ouriço e seguia para Tinhela e neste lugar poderia derivar para Agordela e o caminho da Serra que ligava a São Julião de Montenegro, os cruzeiros estavam colocados nestas vias.

Durante largos anos as aldeias que faziam parte do concelho de Monforte de Rio Livre tinham que reforçar ou fazer a guarda do Castelo de forma a garantir a segurança deste e das suas parcas gentes.
O Castelo de Monforte de Rio – Livre, castelo raiano era um ponto de vigia para os possíveis avanços de Castela, pela sua localização registava as movimentações de possíveis inimigos e defendia as suas gentes desses invasores.
Em data que desconheço ficou a aldeia de Alvarelhos isenta de fazer a guarda ao referido Castelo, para celebrar este acontecimento foram erguidos os referidos cruzeiros e colocados nas entradas da aldeia, conforme registo oral de várias pessoas algumas delas já falecidas.
Os cruzeiros chegaram aos nossos dias e poucos têm conhecimento do simbolismo que eles representam porque não existem registos escritos deste facto que foi passando de geração em geração nos longos serões de Inverno antes de chegar a televisão ás nossas pacatas vidas.

Henrique Rodrigues

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