quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

CAMINOS DE SANTIAGO

Num tempo tão cronometrado onde as milésimas de segundo já são muito tempo, parece não fazer sentido falar em longas caminhadas … Peregrinações têm odor medieval, onde as deslocações se arrastavam no tempo, hoje parecem uma eternidade.
Tal como escreve o poeta espanhol António Machado “o caminho faz-se caminhando” e a nossa “peregrinação” pode implicar o nosso quintal o nosso planeta ou nos dias de hoje sair desta orbita. O Homem tem necessidade de peregrinar, de conhecer, de sair da rotina, de viajar, de se lançar em novas empreitadas, de se renovar em cada estação do ano, do eterno devir do dia e da noite.
A humanidade deve muito a estes aventureiros insatisfeitos que calcorrearam serranias por questões diversas, disseminando conhecimentos e formas de estar na vida e na sociedade.
As peregrinações a Lugares Sagrados remontam aos meados do século IX isto no mundo Cristão porque o no mundo Islâmico as peregrinações a Meca já aconteciam, Santiago de Compostela desde muito cedo foi um dos lugares de maior peregrinação em todo o mundo.
Os Caminhos de Santiago são aqueles que mais romeiros movimentaram por toda a Península Ibérica durante a Idade Media, muitos deles aproveitaram as antigas Vias Romanas, os leitos dos rios e os movimentos comerciais que se iam fazendo em termos regionais, uma vez que a rede viária era deficitária. Os peregrinos iam apanhando boleia de outros grupos de pessoas que se deslocavam e com quem conviviam durante um determinado período ou troço do seu percurso.
Estes Caminhos, têm hoje uma maior divulgação e despertam maior atenção fruto do bom relacionamento que hoje existe entre Portugal e Espanha e da importância que Compostela tem no turismo Galego. Estes itinerários no passado eram muito complicados uma vez que o povoamento era pouco, as vias acidentadas e isoladas por densas matas, uma vês que muitas das aldeias e lugarejos que hoje existem surgiram depois do reinado de D. Dinis que mandou edificar o Castelo de Monforte de Rio Livre e povoar estas terras raianas com o objectivo evitar o avanço dos castelhanos.
Redescobrir os Caminos de Santiago leva-me hoje a falar do Caminho que ligava as margens do Tua (Romeu – Mirandela a Monterrey na Galiza) os caminheiros tinham variadas alternativas mas quanto maior fosse o grupo mais facilmente enfrentavam as adversidades. Estes trilhos foram mais tarde utilizados como rotas de contrabando entre os dois Países.
Existiram por toda esta região inúmeros albergues e hospitais que acolhiam, alimentavam e prestavam o mais variado apoio aos peregrinos que caminhavam em média 5 a 6 léguas por dia. Ao definir este troço do caminho entre a aldeia de Romeu e Osoño na Galiza estou a assumir que nestes locais existiram albergues ou hospitais onde se reuniam e apoiavam peregrinos.
Utilizavam este caminho os peregrinos que se deslocavam da Terra Quente Transmontana e da Bacia do Douro, após atingirem a aldeia de Romeu e a aí pernoitar iniciam nova etapa tomando a direcção de Vale de Salgueiro seguindo o Rio Rabaçal até atingir a antiga via romana perto da Aldeia de Valtelhas entrando no município de Valpaços pela freguesia dos Possacos, subindo em direcção a Vale de Casas até atingir o termo de Vilarandelo, daí seguiam em direcção á Murada de Lamas – de – Ouriço e desta até á Capela de Santiago do Monte ou também conhecida por Santiago da Amoreira, aí entravam no Município de Chaves pela freguesia de Oucidres e dali seguiam em direcção a Mairos cruzando a fronteira até atingir Osoño na Galiza e onde pernoitavam e se juntavam a outros peregrinos com o mesmo destino. Existia e ainda existe a crença muito enraizada, nas pessoas mais idosas de que “Quem não for a Santiago em vida irá lá depois de morto”. Ainda se reza a seguinte oração depois de defunto confirmado, calça-se e diz-se “alma vai pra Santiago” tendo como crença que as almas passam por esta localidade Galega.
Estes trajectos que hoje teriam que ter coordenadas “GPS” fazem todo o sentido e é por esse motivo que por toda a Galiza encontrámos a sinalética de Caminos de Santiago e entre nós temos alguns troços sinalizados não só dos Caminos de Santiago como das Vias Romanas, seria bom que se alargasse esta sinalização, mas seria mais importante que se recuperasse e se divulgasse aquele que foi o património edificado associado às peregrinações.
O Santiago da Amoreira já não existe em termos de Capela edificada, mas existe o lugar e muitas lendas associadas ao Santo, que um dia contarei, é um dever das autoridades locais não se pouparem a esforços para divulgar e preservar este património supra municipal que nunca foi reconhecido estudado e lamentávelmente nem divulgado.


Henrique Rodrigues

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