quinta-feira, 21 de julho de 2011

Forno comunitário de Alvarelhos

Forno comunitário de Alvarelhos

Num tempo em que se valoriza tanto a optimização de recursos, recuar uns tempos, analisar como a necessidade aguça o engenho, como o povo dá a volta ás crises e aos problemas que directamente os afectam poderá ser um exercício muito interessante. O espírito comunitário sempre foi um traço vincado que marcou e marca este povo Transmontano, não muito habituado a reclamar do Estado tudo e mais qualquer coisa...
O forno comunitário de Alvarelhos é um marco histórico cultural da freguesia não muito valorizado, mas pelo menos tem se aguentando á erosão dos tempos. Hoje a necessidade de recorrer ao forno comunitário é menor porque foram construídos fornos particulares, porque a oferta em termos alimentares é mais diversificada, porque a população diminuiu e por tantos outros motivos ...
Em alturas festivas, em especial na Páscoa o forno ganha algum do ritmo de outros tempos em que o forno era partilhado e os pães ou folares eram marcados ao entrar no forno para não haver enganos depois de cozidos. O folar tão característico das nossas gentes tem neste e em muitos outros fornos a lenha muito do seu segredo culinário, a cozedura tem muito que se lhe diga. Os saberes ancestrais de como aquecer o forno ou o tipo de lenha a usar o deixar descair o forno antes de enfornar são coisas que não estão escritas em manuais de instruções mas que o nosso povo faz com tal mestria que parece que todos os dias fazem este serviço.
A fornada de pão que enchia uma giga e depois o" tarandeira" onde ficava até ser consumida, sem que ficasse muito enxuto, apesar de ser consumida dias para não dizer semanas depois, coisa quase impossível nos nossos dias...
Curiosa era a prática corrente do torna pão que consistia em emprestar pão ao vizinho ou vizinha até que esta cozesse e tornasse aquilo que tinha pedido emprestado, ninguém regateava o tamanho ou o sabor do pão que tinha sido alvo de empréstimo, reforçando desta forma os laços de comunidade.
Outra lembrança que guardo é a de uma malga de barro maior que o vulgar que ficava depositada em casa da Sr. Maria do Carmo com um bocado de massa fermentada que depois era utilizar como levedura na nova fornada. Esta levedura ia rodando pelos utilizadores do forno que tinham a obrigação de deixar a malga cheia para o próximo utilizador do forno.
O sentido comunitário das nossas gentes sempre foi muito apurado, não é por acaso que somos uma terra que tem baldios de utilização comum, regadio de utilização e limpeza comuns , existiu em tempos o Tronco que servia para ferrar, para olhar ou até para vacinar os animais mais ariscos também de uso comum, para lá de outros equipamentos que existem nesta e em muitas outras terras Transmontanas para os quais o Estado não contribuiu com como é o caso da casa paroquial que só foi possível pela força férrea do lider paroquial da altura o Rev.Padre Delmino, que muito ajudou esta freguesia com do seu esforço físico, intelectual e monetário.
A água do regadio " andar á roda" para de uma forma simples se tornar eficiente e ao mesmo tempo um bem disponível para todos. Ao domingo e quinta -feira é para o jericó das hortas da Água - levada o restantes dias a água rodava pelos campos onde chegava o rego. Hoje como diria o Sr. Brás " até se verte" porque há pouco para regar mas este equipamento ancestral registou talvez muitas das mais acesas quezílias entre vizinhos pois muitas das vezes era tornada por alguém mais desesperado que não queria ver passar sede ao seu "renovo" e infringia o que estava estabelecido, tempos houve em que se regava de noite e de dia com a ajuda de uns lampiões a petróleo para ver se a àgua chegava ao fim do rego.
A confecção do pão que é um dos alimentos base da alimentação das nossas gentes é uma tarefa muitas vezes partilhada e com um ritual cadenciado, quase sagrado onde a invocação a algo superior é inevitável pois um pequeno erro pode deitar por terra uma fornada de pão. Desde o aquecer do forno o amassar o pão , o deixar levedar, o rapar o forno, o deixar descair o forno, o enformar do pão, a oração após a entrada do pão no forno , o cozer do pão o retirar do pão do forno e dar-lhe a palmadinha para ver se já está cozido são tudo pequenos pormenores que fazem a diferença.
Somos um povo crente e temente a Deus e em grande parte das nossas actividades sejam elas laborais ou lúdicas a invocação a algo superior acontece e o fabrico do Pão não é excepção, daí a oração que diz o nosso povo após a entrada do Pão no forno seguida do sinal da cruz com a pá que enfornou o pão " Cresça o Pão no forno o bem por o mundo todo e a paz em casa do seu dono em honra de Deus e da Virgem Maria um Pai Nosso e uma Avé Maria."
Muitos são os ditados populares relacionados com esta temática tal como "Haja saúde e coza o forno" que é um sinal de que pelo menos a fome não atingia as suas gentes que desde que haja pão e vinho já se anda o caminho ...


Henrique Rodrigues
Num tempo em que se valoriza tanto a optimização de recursos, recuar uns tempos, analisar como a necessidade aguça o engenho, como o povo dá a volta ás crises e aos problemas que directamente os afectam poderá ser um exercício muito interessante.
O espírito comunitário sempre foi um traço vincado que marcou e marca este povo Transmontano, não muito habituado a reclamar do Estado tudo e mais qualquer coisa...
O forno comunitário de Alvarelhos é um marco histórico cultural da freguesia não muito valorizado, mas pelo menos tem se aguentando á erosão dos tempos. Hoje a necessidade de recorrer ao forno comunitário é menor porque foram construídos fornos particulares, porque a oferta em termos alimentares é mais diversificada, porque a população diminuiu e por tantos outros motivos ...
Em alturas festivas, em especial na Páscoa o forno ganha algum do ritmo de outros tempos em que o forno era partilhado e os pães ou folares eram marcados ao entrar no forno para não haver enganos depois de cozidos. O folar tão característico das nossas gentes tem neste e em muitos outros fornos a lenha muito do seu segredo culinário, a cozedura tem muito que se lhe diga. Os saberes ancestrais de como aquecer o forno ou o tipo de lenha a usar o deixar descair o forno antes de enfornar são coisas que não estão escritas em manuais de instruções mas que o nosso povo faz com tal mestria que parece que todos os dias fazem este serviço.
A fornada de pão que enchia uma giga e depois o" tarandeira" onde ficava até ser consumida, sem que ficasse muito enxuto, apesar de ser consumida dias para não dizer semanas depois, coisa quase impossível nos nossos dias...
Curiosa era a prática corrente do torna pão que consistia em emprestar pão ao vizinho ou vizinha até que esta cozesse e tornasse aquilo que tinha pedido emprestado, ninguém regateava o tamanho ou o sabor do pão que tinha sido alvo de empréstimo, reforçando desta forma os laços de comunidade.
Outra lembrança que guardo é a de uma malga de barro maior que o vulgar que ficava depositada em casa da Sr. Maria do Carmo com um bocado de massa fermentada que depois era utilizar como levedura na nova fornada. Esta levedura ia rodando pelos utilizadores do forno que tinham a obrigação de deixar a malga cheia para o próximo utilizador do forno.
O sentido comunitário das nossas gentes sempre foi muito apurado, não é por acaso que somos uma terra que tem baldios de utilização comum, regadio de utilização e limpeza comuns , existiu em tempos o Tronco que servia para ferrar, para olhar ou até para vacinar os animais mais ariscos também de uso comum, para lá de outros equipamentos que existem nesta e em muitas outras terras Transmontanas para os quais o Estado não contribuiu com como é o caso da casa paroquial que só foi possível pela força férrea do lider paroquial da altura o Rev.Padre Delmino, que muito ajudou esta freguesia com do seu esforço físico, intelectual e monetário.
A água do regadio " andar á roda" para de uma forma simples se tornar eficiente e ao mesmo tempo um bem disponível para todos. Ao domingo e quinta -feira é para o jericó das hortas da Água - levada o restantes dias a água rodava pelos campos onde chegava o rego. Hoje como diria o Sr. Brás " até se verte" porque há pouco para regar mas este equipamento ancestral registou talvez muitas das mais acesas quezílias entre vizinhos pois muitas das vezes era tornada por alguém mais desesperado que não queria ver passar sede ao seu "renovo" e infringia o que estava estabelecido, tempos houve em que se regava de noite e de dia com a ajuda de uns lampiões a petróleo para ver se a àgua chegava ao fim do rego.
A confecção do pão que é um dos alimentos base da alimentação das nossas gentes é uma tarefa muitas vezes partilhada e com um ritual cadenciado, quase sagrado onde a invocação a algo superior é inevitável pois um pequeno erro pode deitar por terra uma fornada de pão. Desde o aquecer do forno o amassar o pão , o deixar levedar, o rapar o forno, o deixar descair o forno, o enformar do pão, a oração após a entrada do pão no forno , o cozer do pão o retirar do pão do forno e dar-lhe a palmadinha para ver se já está cozido são tudo pequenos pormenores que fazem a diferença.
Somos um povo crente e temente a Deus e em grande parte das nossas actividades sejam elas laborais ou lúdicas a invocação a algo superior acontece e o fabrico do Pão não é excepção, daí a oração que diz o nosso povo após a entrada do Pão no forno seguida do sinal da cruz com a pá que enfornou o pão " Cresça o Pão no forno o bem por o mundo todo e a paz em casa do seu dono em honra de Deus e da Virgem Maria um Pai Nosso e uma Avé Maria."
Muitos são os ditados populares relacionados com esta temática tal como "Haja saúde e coza o forno" que é um sinal de que pelo menos a fome não atingia as suas gentes que desde que haja pão e vinho já se anda o caminho ...


Henrique Rodrigues

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Boletim Paroquial de Alvarelhos Oucidres Tinhela

Corria o ano da graça de 1965 quando foi publicado o primeiro Boletim Paroquial de Tinhela, e mais tarde estendeu-se a Alvarelhos e Oucidres. Obra da vontade e do punho do reverendo Pároco Padre Delmino Rodrigues Fontoura, que teve a seu cargo este rebanho, no inicio da sua vida sacerdotal.
Era um boletim que queria levar um pouco de alegria, uma palavra amiga, uma recordação grata, um bocadinho de amor pela nossa terra, a todos os que deixavam o torrão materno e partiam para Africa, Brasil, Europa, para Lisboa ou Porto ou para outros destinos na ânsia de encontrar um futuro melhor.
Nos dias de hoje as redes sociais a Internet e as comunicações moveis ou fixas fazem muito desse trabalho mas hà 45 anos atrás saber noticias da aldeia era muito difícil. Poucos eram os recebiam noticias das suas terras até porque a taxa de analfabetismo era muito elevada e poucas ou nenhumas eram as publicações, os jornais nacionais não traziam a não ser que acontecesse uma tragedia uma linha sobre estes lugares daí que este boletim com noticias da santa terrinha foi bem acolhido e motivo de orgulho de todos os nossos conterrâneos espalhados pelo Mundo.
Em 1965 posso dizer-vos que parecia estarmos na vanguarda e a este nível talvez até estivéssemos pois poucos teriam a sorte de estar nas roças Africanas e receber noticias como aconteceu com alguns dos nossos conterrâneos.
Posso dizer-vos porque ficou registado nas páginas do boletim paroquial “…a nossa rica estrada é alvo das nossas atenções e para a qual já pagámos o ano passado a quantia de 11.720$00 pelas três povoações interessadas – Tinhela, Alvarelhos e Lamas de Ouriço. Já está empreitada de Lamas de Ouriço a Alvarelhos, graças á preciosa colaboração de S. Exª o Sr. Presidente da Câmara e o Sr. Dr. Juiz António de Carvalho que não se tem poupado a sacrifícios para ver realizado o anseio do nosso povo. Oxalá que o sr. Empreiteiro nos faça o rompimento o mais depressa possível, são os nossos votos.” Isto talvez já não seja notícia mas aqui fica demonstrada a generosidade das nossas gentes pois muitas das obras às quais não damos grande valor só foram possíveis porque a determinação e o querer de outros que nos antecederam as tornaram possíveis.
Poderia falar-vos da rede eléctrica que chegou por esta altura ou da casa Paroquial de Alvarelhos ou das escolas primárias ou de outras obras que se foram realizando com os braços dos que ficavam e com o dinheiro dos que tinham partido.
O boletim foi publicado durante algum tempo e no fundo para lá de pequenas noticias, e da mensagem de boas festas que o pároco transmitia porque era publicado nesta quadra ele informava o movimento paroquial em óbitos, casamentos e baptizados.
O Padre Delmino, foi dos padres que mais marcou estas terras pois o seu dinamismo e a sua de forma de estar e de intervir excediam a as suas funções de Pároco e para ele com os votos de boas festas fica este apontamento que passados 45 anos e talvez daqui por mais 45 anos ainda possa ser recordado pois sem se aperceber estava a registar um dos momentos de mais prosperidade da freguesia.
Poderia trazer-vos outros recortes desses boletins que foram publicados mas isso fica para outra oportunidade, para já quero apenas dizer ás gerações mais novas que a nossa terra já teve um jornal assim como já teve muitas outras coisas das quais nos devemos orgulhar porque foram grandes na medida em que nós como freguesia somos apenas um punhado de homens livres.
A todos, onde quer que vos encontreis, desejo um próspero Ano de 2011.


Henrique Rodrigues

O Boletim Paroquial de Alvarelhos Oucidres Tinhela

Corria o ano da graça de 1965 quando foi publicado o primeiro Boletim Paroquial de Tinhela, e mais tarde estendeu-se a Alvarelhos e Oucidres. Obra da vontade e do punho do reverendo Pároco Padre Delmino Rodrigues Fontoura, que teve a seu cargo este rebanho, no inicio da sua vida sacerdotal.
Era um boletim que queria levar um pouco de alegria, uma palavra amiga, uma recordação grata, um bocadinho de amor pela nossa terra, a todos os que deixavam o torrão materno e partiam para Africa, Brasil, Europa, para Lisboa ou Porto ou para outros destinos na ânsia de encontrar um futuro melhor.
Nos dias de hoje as redes sociais a Internet e as comunicações moveis ou fixas fazem muito desse trabalho mas à 45 anos atrás saber noticias da aldeia era muito difícil. Poucos eram os recebiam noticias das suas terras até porque a taxa de analfabetismo era muito elevada e poucas ou nenhumas eram as publicações, os jornais nacionais não traziam a não ser que acontecesse uma tragedia uma linha sobre estes lugares daí que este boletim com noticias da santa terrinha foi bem acolhido e motivo de orgulho de todos os nossos conterrâneos espalhados pelo Mundo.
Em 1965 posso dizer-vos que parecia estarmos na vanguarda e a este nível talvez até estivéssemos pois poucos teriam a sorte de estar nas roças Africanas e receber noticias como aconteceu com alguns dos nossos conterrâneos.
Posso dizer-vos porque ficou registado nas páginas do boletim paroquial “…a nossa rica estrada é alvo das nossas atenções e para a qual já pagámos o ano passado a quantia de 11.720$00 pelas três povoações interessadas – Tinhela, Alvarelhos e Lamas de Ouriço. Já está empreitada de Lamas de Ouriço a Alvarelhos, graças á preciosa colaboração de S. Exª o Sr. Presidente da Câmara e o Sr. Dr. Juiz António de Carvalho que não se tem poupado a sacrifícios para ver realizado o anseio do nosso povo. Oxalá que o sr. Empreiteiro nos faça o rompimento o mais depressa possível, são os nossos votos.” Isto talvez já não seja notícia mas aqui fica demonstrada a generosidade das nossas gentes pois muitas das obras às quais não damos grande valor só foram possíveis porque a determinação e o querer de outros que nos antecederam as tornaram possíveis.
Poderia falar-vos da rede eléctrica que chegou por esta altura ou da casa Paroquial de Alvarelhos ou das escolas primárias ou de outras obras que se foram realizando com os braços dos que ficavam e com o dinheiro dos que tinham partido.
O boletim foi publicado durante algum tempo e no fundo para lá de pequenas noticias, e da mensagem de boas festas que o pároco transmitia porque era publicado nesta quadra ele informava o movimento paroquial em óbitos, casamentos e baptizados.
O Padre Delmino, foi dos padres que mais marcou estas terras pois o seu dinamismo e a sua de forma de estar e de intervir excediam a as suas funções de Pároco e para ele com os votos de boas festas fica este apontamento que passados 45 anos e talvez daqui por mais 45 anos ainda possa ser recordado pois sem se aperceber estava a registar um dos momentos de mais prosperidade da freguesia.
Poderia trazer-vos outros recortes desses boletins que foram publicados mas isso fica para outra oportunidade, para já quero apenas dizer ás gerações mais novas que a nossa terra já teve um jornal assim como já teve muitas outras coisas das quais nos devemos orgulhar porque foram grandes na medida em que nós como freguesia somos apenas um punhado de homens livres.
A todos, onde quer que vos encontreis, desejo um próspero Ano de 2011.


Henrique Rodrigues

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Extracção Mineira

Nas décadas de trinta e quarenta, longe dos interesses definidos por Salazar, que conseguiu manter o País neutro apesar da situação explosiva a nível mundial, muitos Transmontanos sonharam e acreditaram nesta terra tão agreste e tão madrasta. Salazar, soube negociar com ambas as partes envolvidas na II Guerra Mundial, usou o Volfrâmio para fortalecer os cofres da Nação, ao mesmo tempo, nestes recônditos lugarejos o povo sonhava com o el dourado que se escondia nas entranhas das nossas serranias, era a Febre do Volfrâmio, que atacava em força e a perspectiva de um futuro melhor, foi a revolução industrial de Tás-os-Montes, que não passou de uma febre.
Com a II Guerra Mundial como cenário de fundo a exploração mineira sofreu um forte incremento e várias foram as serras que através de poços ou minas foram esventradas na ânsia de extrair o tão procurado minério.
A freguesia de Alvarelhos registou um pico populacional durante o período em que a actividade mineira na freguesia teve mais actividade, não só pelo emprego gerado mas sobretudo porque as perspectivas de emigração eram à época muito reduzidas. O trabalho na mina ou no poço poderia não ser muito atractiva mas era das poucas actividades que permitiam uma jorna e desta forma um pedaço de pão para família.
O volfrâmio foi a subsistência de muita gente, este minério era utilizado no fabrico de armas e munições daí a sua importância neste conflito e na economia mundial. A exploração inicialmente controlada por empresas Inglesas e Germânicas, mais tarde por pequenas empresas locais bastante vulneráveis, permitindo que grande parte do minério fosse contrabandeado e vendido no mercado paralelo. Não se sabendo ao certo a quantidade de minério extraído na freguesia na região ou no País, as empresas de maior dimensão como as minas da Borralha em Montalegre eram mais controladas e muitas das vezes absorviam o minério extraído de empresas de menor dimensão.
Muitos foram os que participaram nesta empreitada, felizmente ainda existem alguns vivos, mas a cada ano que passa, vamos perdendo muitas dessas memórias, das vivências, das rotinas de quem trabalhava na mina. Aqui se conheceram, namoraram e alguns chegaram mesmo a casar, as minas juntaram neste local pessoas de Lamas de Ouriço, Alvarelhos, Vila Nova, Oucidres e Tinhela, numa jornada dura, mas para estas gentes habituadas aos trabalhos agrestes do campo, onde suportam nove meses de Inverno e três de inferno, o trabalho no minério não era fácil mas a vida neste período dentro ou fora da mina era de muitas carências.
A extracção mineira na freguesia era dirigida pelo senhor Lobo que residia em Chaves local para onde era encaminhada toda a extracção depois de lavada na ribeira de Lamas de Ouriço. O minério era transportado em carros de bois atravessando a serra até à cidade de Chaves onde terminava a extinta linha do corgo, que servia para transportar o minério para o seu destino final.
O Sr. Lobo era um homem bastante conhecido na região apesar de não ser natural da freguesia era frequente encontra-lo na serra onde acompanhava muitos dos trabalhos das minas ou poços.
As minas da Ribeira de Lamas de Ouriço resistiram ao tempo, as galerias e poços escavados, a cabana do guarda têm resistido, mas muitas foram as alterações que aconteceram na paisagem, a estrada municipal principal acesso à freguesia fez desaparecer os tanques de lavagem do minério a construção de privados esconderam as galerias e muitos dos utensílios que foram desaparecendo e hoje as minas estão mais que esquecidas, numa primeira fase foram esquecidas para reduzir acidentes e posteriormente abandonadas.
A propriedade destes espaços não me parece que algum dia tenha sido reclamado, as minas encontram-se em terreno baldio, Florestado com bons acessos localizadas no centro da freguesia de Alvarelhos. A Junta de Freguesia aproveitou a água da mina para o abastecimento da rede pública e colocou um portão para evitar o acesso a uma das galerias.
As memórias das minas estão prestes a desaparecer os que trabalharam neste local estão hoje com mais de 65 anos e ainda que tenham ali passado momentos muito fortes de grandes alegria e sofrimento, aquilo que consegui recolher de alguns relatos é que o dia a dia também era repleto de boa disposição e alegria onde as apostas, as alcunhas e outras brincadeiras também tinham lugar.
Não sei ao certo durante quanto tempo durou esta exploração, porque ela se arrastou no tempo ainda que menos rentável, depois do Sr. Lobo, foi dirigida por um dos capatazes o Sr. João David de Lamas de Ouriço até ao seu abandono ou encerramento, alguns dos que ali trabalhavam aproveitaram o fim da guerra e a falta de mão-de-obra na Europa e partiram logo de seguida para a França e para Alemanha a salto, clandestinamente. Estes levaram outros e de geração em geração a freguesia a região e o País foi perdendo população.
As minas abandonadas foram esquecidas, ainda não vi ou ouvi nenhum político fazer qualquer proposta para este local, acredito que nem tenham conhecimento delas, daí o interesse de que se reveste este texto, para divulgar e porque não propor a quem tem o poder de decidir. Acredito que os nossos políticos estejam demasiado ocupados e não tenham tempo nem imaginação para valorizar este local e esta freguesia.
Aproveitando o que resta dos fundos comunitários não seria interessante revitalizar este espaço criando na parte da frente das minas um espaço museológico sobre esta temática aproveitando uma das galerias da mina para galeria de exposições. Aproveitar a zona florestada para um parque de merendas, reconstruir o moinho e os tanques de lavar o minério na ribeira de Lamas de Ouriço e construir-lhe um acesso pedonal quer do lado Norte, Lamas de Ouriço quer do lado Sul Alvarelhos, sinalizar e preservar o buraco que serviu de tecto aos refugiados da Guerra Civil Espanhola.
Senhores políticos mesmo que não se queiram candidatar a fundos comunitários estes melhoramentos não implicam grande investimento, pois grande parte do local a intervencionar é propriedade da Junta de Freguesia.


Henrique Rodrigues

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Estrada do Chícharo

Ao longo dos tempos foi perdendo muita da sua importância porque os senhores presidentes de câmara numa lógica eleitoralistas sempre se preocuparam com votos em vez do desenvolvimento e fortalecimento regional, a estrada do chícharo foi em tempos a espinha dorsal da Serra Negra aproximando as populações de Friões, Barracão, Mosteiró de Cima, S. Julião, Vila Nova de Monforte, Avelelas, Oucidres, Alvarelhos, Bobadela, Tronco etc…
Percurso de contrabandistas e de tantos que queriam fugir aos itinerários principais, a estrada da serra sempre foi uma alternativa, porque pouco movimentada e pouco fiscalizada.
A estrada do chícharo voltou novamente à baila com a notícia do futuro aeródromo intermunicipal a construir pelos municípios de Chaves e Valpaços na Serra Negra (Barracão). Desde que me conheço como gente já ouvi falar desta obra vezes a mais sem que nada, rigorosamente nada fosse feito. A afectação dos dinheiros públicos devem pautar-se por critérios que não vou enunciar, mas também transmite a visão futurista ou conservadora ou a falta de visão que afecta muitos dos nossos políticos/governantes.
Num País que gastou grande parte dos fundos comunitários no reforço da rede rodoviária, parece-me cataratas aquilo de que sofrem alguns lideres regionais, que continuam a ver as suas terras completamente encravadas, afastadas dos grandes eixos rodoviários nacionais e internacionais, optando por gastar os dinheiros públicos na requalificação de curvas como as da EN 213, justificando a opção com a morte das aldeias que são servidas pela referida Estrada Nacional.
A estratégia ou a falta dela para um desenvolvimento harmonioso a nível regional ou municipal, mais uma vez fica clara, hoje ouvimos os autarcas a defender esta localização e este investimento público, no futuro uma parceria mais alargada leva este projecto para a Serra da Padrela, isto se não surgir ninguém a defender a sua localização na Serra do Perdigão ou em outro sítio deste fim de mundo. Por fim vamos ter a tal obra financiada por fundos comunitários lá para os lados de Verin em terras de nuestros hermanos, porque nós Tugas somos incapazes de programar e defender o mesmo projecto por mais de quatro anos, assim como definir uma estratégia que tenha um horizonte temporal superior a um ano.
A nossa tendência egocêntrica de copiar e desejar tudo o que o vizinho tem, traduz-se numa falência completa a nível regional, pois tudo o que seja inovação e até possa fazer algum sentido num município nosso vizinho torna-se fastidioso e perde dimensão quando replicado vezes sem conta por toda a região.
As associações de municípios têm servido para muito pouco, (tachos), traduzem-se em mais um esfrangalhar administrativo sem resultados, sem objectivos e mais grave sem recursos e sem força politica para impor decisões ou projectos que são vitais para a região, mas porque não estão localizados nas vilas e cidades transmontanas, não avançam penalizando duplamente as freguesias mais pequenas e mais afastadas das sedes de município num território já de si fragilizado.
Os acessos ao tal aeródromo já poderiam e deveriam estar executados mas não estava previsto nenhum aeródromo, como tal gastou-se os recursos públicos na requalificação da EN. A ligação ao nó de Feces e consequentemente à Europa ligando a A7 à A4, passando pela Cidade de Valpaços fica para a depois do aeródromo. Sim porque este só faz sentido se tiver acessos facilitados e um tecido empresarial que justifique a sua existência caso contrario é mais um elefante branco que alguém tem que sustentar …
Não é novidade para ninguém a crise financeira que o País atravessa, que com toda a certeza servirá de justificação para que esta obra não passe de blá, blá blá e conversa fiada, mas demonstra a falta de estratégia regional e municipal.
Continuámos muito preocupados com o túnel do Marão, contribuímos directamente para a sua construção quando aqui ao lado atravessando a Ribeira de Feces temos Cidades e Vilas que nos dariam muito mais, que aquilo que vamos trazer ou levar para lá do Marão…
Quanto se gastou de fundos comunitários no reforço da coesão regional Norte/Galicia? Só Chaves é que tem a ganhar com a Euro-Cidade? O Eixo Atlântico também chega a Valpaços e à restante Região? Estes senhores só fazem palestras e congressos ou os nossos políticos/governantes locais só saem quando vão de férias ou para os congressos do Partido?
Deixei de manifestar a minha opinião relativamente a muitos dos assuntos que vão agitando as hostes Valpacenses, mas como este assunto diz respeito aos fregueses da montanha resolvi tecer estes breves comentários, relembrando a velha estrada do chícharo porque vou continuar a ouvir falar do famigerado aeródromo que tarde ou nunca chegará …



Henrique Rodrigues